segunda-feira, 4 de maio de 2015

Associação quer saber o que fazem 750 menores traficados devolvidos às famílias

A Associação dos Amigos da Criança (AMIC) da Guiné-Bissau apoiou em dez anos o regresso às famílias de 750 menores traficados e agora quer saber "o que fazem da vida", explicou à Lusa o secretário-executivo, Laudolino Medina.
Associação quer saber o que fazem 750 menores traficados devolvidos às famílias
"Queremos saber o que estão a fazer, quais as perspetivas de vida e como os podemos ajudar a realizar os seus sonhos no contexto das regiões onde vivem", referiu.

As zonas de Bafatá, no centro da Guiné-Bissau, e Gabu, no Leste, são aquelas em que se regista o maior número de casos de tráfico, dos quatro aos 17 anos de idade.

São situações em que as crianças costumam ser levadas por angariadores com a concordância das famílias, que chegam a pensar estar a proporcionar-lhe um futuro melhor em escolas corânicas no Senegal ou Gâmbia.

No entanto, as crianças acabam por ser exploradas: são chamadas de "talibés" e pedem nas ruas para entregar uma quantia diária (em dinheiro e géneros) a supostos chefes.

A partir deste mês de maio, a AMIC vai fazer um inquérito a 255 crianças das regiões de Bafatá e Gabu, retornadas desde 2005 dos países vizinhos.

Quando as consegue trazer de volta para a família, a AMIC faz uma avaliação das condições e traça um plano de reinserção de cada criança, que será acompanhada pela associação durante dois anos.

Por um lado, há um acompanhamento de perto pelas autoridades locais e depois há visitas mensais de animadores da AMIC - e ainda a supervisão trimestral a cada caso feita pelo próprio secretário-executivo.

"Se durante esses dois anos a criança não sair da aldeia para outras situações de alto risco, nós fechamos o dossiê", explicou Laudolino Medina.

Noutros países, além do acompanhamento social e psicológico, a reinserção é feita com cursos profissionais, mas na Guiné-Bissau as vítimas "são mais novas", pelo que os planos preveem sobretudo a reinserção escolar.

Agora, a AMIC vai avaliar esses planos e perceber se tiveram impacto, uma avaliação que Laudolino Medina considera tanto mais necessária por causa da falta de estruturas no interior do país.

"Nas aldeias há um enorme problema de carência de serviços sociais de base", referiu, o que só por si justifica também que haja orientação para crianças e jovens por parte da AMIC.

A associação espera ter resultados dentro de dois meses para depois delinear planos de trabalho.

O estudo vai ser feito no âmbito da Rede da África Ocidental de Proteção de Crianças que agrupa 15 entidades de diferentes países, incluindo a AMIC.

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